domingo, 31 de agosto de 2008

A porta?

Pensam-me os anos
Não a idade
Que a essa, já lhe perdi o conto;
Pesam-me os dias
Sempre iguais
O Sol
Nasce
Almoça
E põe-se
Porque é que um dia destes
Resolve o Sol não nascer?
Dizia: - hoje não nasço e pronto!

Cansa-me
Este eterna
Previsibilidade do imprevisível futuro.
Porque não nascem rosas pretas?
Eu nunca vi uma rosa preta
E se há rosas amarelas
É porque cor-de-rosa e amarelo são ambas a mesma cor.

Que confusão
Os dias são
Eternamente e previsivelmente
Igualmente desiguais.

Pesa-me o ser, este fingir que vivo
Que na realidade é desviver.
- Então como vai a vidinha? Perguntam.
- Vai andando, respondo,
Para não dizer que vai desandando
Não quero ter que explicar porquê.
Porque motivo querem as pessoas saber sempre tudo
O que não interessa? Se é que alguma coisa interessa
Nesta vida.

Dói-me os pés neste descaminho que percorro
Onde me arrasto, neste eterno
Sonha-que-logo-alcanças
Sem nunca alcançar seja o que for.


Qual o sentido das coisas?
Ou as coisas não têm sentido?
Então se as coisas não têm sentido, porque temos que lhe inventar um?

Irritam-me os políticos
Os intelectuais
Que julgam saber de tudo
Quando não sabem de coisa nenhuma
A não ser alardear a sua imbecil não-inteligência.

Irrita-me
Este ódio,
Esta guerra,
Esta mentira,
Esta inveja
Esta ganância
Toda esta mesquinhez
Todas as injustiças
Não era suposto sermos todos humanos?
Não era suposto sermos todos racionais?

Irritam-me as luzes da noite
Que me impedem de ver o brilho das verdadeiras estrelas

Irrita-me o barulho dos carros
Que me impede
De ouvir o vento
De ouvir o mar

Irrito-me de mim própria
Eterna desconhecida
De um eu que não sou eu

Quero ir-me embora
Deixem ir-me embora

Digam-me só uma coisa
Por favor

Onde é a porta da saída?



Maria Madalena

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu diria que está maravilhoso como tudo o que tu escreves
Fatinha