quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pelas ruas de Lisboa

Subo a calçada da Glória,
ofegante,
procuro a tua mão,
a tua cintura,
paro à escuta no tempo,
para ouvir a tua gargalhada,
perdida nas ruelas de Lisboa,
pergunto às pedras da calçada
pelos teus passos soltos de outrora,
subo aos telhados na esperança de te ver,
espero que o infinito me devolva,
como no “Contacto”,
a tua voz nas ondas da rádio.
Vou palmilhando a passos largos cada rua,
afinal o propósito tão banal de ali estar,
uns simples documentos, nada mais do que isso
e eu a divagar.
Desço as calçadas revoltas de ruas nuas,
pedras soltas que nada me dizem,
fachadas em restauração,
edifícios desventrados,
abandonados,
mulheres que vendem o corpo em preço de saldo,
fim de estação da vida,
mendigos à espera da bondade alheia,
neste mundo alheado de si próprio,
farrapos humanos da droga
acenando a quem passa
por um lugar vago na condição humana,
num mundo de faz de conta.

29 de Fevereiro 2008
João Fernando

1 comentário:

Anónimo disse...

muito bonito
Fatinha