terça-feira, 28 de outubro de 2008

A criança em nós

Escrevo sem linhas, ao divagar da pena,
Nem linhas de caminho-de-ferro,
Nem linhas de caderno pautado,
Como as crianças no pátio de recreio,
Letras soltas, sem forma,
Gritos de criança, imaginação infantil,
Puto franzino, super-herói,
Homem-aranha correndo atrás da bola,
Princesa sarracena, de véu azul,
Céu limpo, estrelas mil no firmamento,
Zorro sem espada brandindo os braços no ar,
Gesticulando palavras articuladas,
Mas sem espingardas,
Paz na terra em dia de carnaval,
Garboso campino conduzindo a manada tresmalhada,
Pardais em bando,
Os gritos de alegria de viver
A idade da inocência,
E a bola que não pára de saltar,
Corações a cento e tal por minuto,
Faces rosadas de tanta correria,
Sem aritmética, nem gramática,
O meio ambiente ali mesmo sob os seus pés,
Os estudos sociais atirados porta fora,
Que ali são todos crianças,
Respiram o mesmo ar,
Sonham os mesmos sonhos,
Vêm aí as férias,
Sem números, nem letras,
E a vida de adulto com outras letras,
Finanças e contas para pagar,
Essa bem pode esperar,
Envelhecer antes do tempo,
Para quê?
Dêem-me uma bola e um arco,
Um berlinde e um pião
Que eu faço-os girar no pátio da minha imaginação,
Na criança que há em nós,
Voando um papagaio,
Asas ao vento pairando bem alto,
Onde só os sonhos chegam,
Nos teus braços, no teu colo,
Queria adormecer uma criança,
A nossa, ladina, travessa.
Por ora, adormeço-te a ti, meu amor.

João Fernando, 20-2-2004

4 comentários:

Anónimo disse...

Um amor, que nem um oceano consegui separar, nem a maldade conseguiu destruir.

Anónimo disse...

Belíssimo este poema.Muito bem construído com um fundo onírico maravilhoso e um q.b. de realidade.

Susana Garcia Ferreira disse...

lindo este poema,como tu escreves tão bem ,titio João.

Anónimo disse...

Lindo,lindo não tenho mais palavras
Fatinha