domingo, 30 de novembro de 2008

Para não dizerem que não falei de flores




"Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer."

Geraldo Vandré

Cecília Meireles


Mais um pequeno tributo a Cecília Meireles, estes poemas foram aqui deixados pela minha querida amiga Elizabet.

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
Feito de longe e de leve,
Para que venhas comigo
E eu para sempre te leve…
- Mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
Das montanhas dos instantes
Desmancha todos os mares
E une as terras mais distantes…
- Palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
Entre os ventos taciturnos,
Apago meus pensamentos,
Ponho vestidos nocturnos,
- Que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
Os mundos vão navegando
Nos ares certos do tempo,
Até não se sabe quando… -
E um dia eu me acabarei.

Interlúdio

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
Nem passado.
Deixa o presente — claro muro s
Em coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
Pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
O cometa dos meus males a
Funda, desarvorado.

Fico ao teu lado.


Ninguém me venha dar vida

Ninguém me venha dar vida,
Que estou morrendo de amor,
Que estou feliz de morrer,
Que não tenho mal nem dor,
Que estou de sonho ferida,
Que não me quero curar,
Que estou deixando de ser
E não me quero encontrar,
Que estou dentro de um navio
Que sei que vai naufragar,
Já não falo e ainda sorrio,
Porque está perto de mim
O dono verde-mar que busquei
Desde o começo e estava apenas no fim.
Corações por que chorais?
Preparai meu arremesso para as algas e corais.
Fim ditoso, hora feliz:
Guardai meu amor sem preço
Que só quis a quem não quis.


Inscrição na Areia

O meu amor não tem
Importância nenhuma.
Não tem o peso nem
De uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
Importância nenhuma.
Canção do Sonho Acabado

Já tive a rosa do amor
- Rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- Utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...


Cecília Meireles

Limites? Onde?




Depois, de um Monte Velho e umas caipirinhas, o céu é o límite, ...dentro do limitado espaço de um... Fiat Punto em segunda mão! Se eu puder amar, se me deixarem amar, eu amarei, sem limites e poderei ser feliz e fazer feliz os que me rodeiam. Só peço uma coisa, ou melhor duas, confiem em mim e não me rotulem, não sou fácil, nem leviana, sou mulher.
"Vidas Vividas" Maria Madalena

Sou louca sim


Sou louca sim, gosto desta minha loucura, desta minha insanidade.
Deixem-me ser louca assim, pois quem não é louco não vive apaixonado, e quem vive apaixonado forçosamente que é louco. Loucura, génio, paixão e poesia não existem sem coexistirem entre si, por isso quero ser louca, poder expressar todos os meus pensamentos livremente, sem o sentimento de culpa que o preconceito nos quer fazer sentir.
Sei quem amo, sei o que quero amar, sei que esta sociedade não se enquadra na minha forma de estar na vida, por isso deixem-me, libertem-me, não me prendam, pois quem me prender jamais me terá, serei apenas e só de quem me liberte. Quero ser louca, deixem-me ser louca, se me querem feliz, deixem-me ser louca. Quero com o meu olhar, abarcar o céu, o mar e tudo o que está entre um e outro. Quero ser como Fernão Capelo Gaivota, não me imponham regras, não me digam o que tenho que fazer. Eu tenho as minhas regras, e sei até onde quero ir; Deixem-me ser como o Principezinho, deixem-me conhecer as cousas todas, deixem-me conhecer as pessoas todas, doutores, prostitutas, gente simples, gente apaixonada, gente gente, gente louca como eu, para que possa dar valor ao que tenho; deixem-me conhecer o mal, para que possa apreciar o bem, deixem-me sofrer para que possa distinguir a alegria, e se for possível, deixem-me conhecer a morte para que poda dar valor à vida.
Deixem-me ser eu, deixem-me viver as minhas emoções a fundo, deixem-me ser louca, não me prendam as asas, deixem-me ser como sou se me querem autenticamente feliz.
Confiem em mim, quando digo que amo é porque amo, não minto, eu não sei mentir no amor, mas saibam que, muitas faces tem o amor e muitas formas são as de amarmos. Deixem que eu possa expressar livremente os meus sentimentos, sem preconceitos e falsos pudores. Quando eu quiser dizer amo-te, não critiquem, não tirem falsas conclusões. Cada ser é único e tem o direito de, dentro dessa individualidade, ser respeitado. Cada um tem o direito de ser aceite tal como é, não como os outros querem que seja.
"Pensamentos Soltos" Maria Madalena

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Por vezes são sinuosas as estradas do amor

Elvis Presley - Love Me Tender



Deixa-me

Quero beber o teu sorriso
A tua voz
O teu olhar
A tua doçura
A tua meiguice,
Não me negues nada
Se dizes que me amas.

Deixa-me afogar-me
Nos teus braços,
No teu corpo,
No teu amor.

Deixa que eu passe
Os meus dedos
Pelo teu rosto,
Pelas ondas do teu cabelo.

Deixa-me sentir
A maciez da tua pele,
Das tuas mãos,
Da ponta dos teus dedos.

Deixa-me beijar-te
A testa,
As pálpebras
A tua face,
Os teus lábios
O teu corpo.

Deixa-me que te faça meu
Como tu me fazes tua.

Deixa que te ame
Hoje,
Amanhã,
Toda a nossa vida
Deixas?

Maria Madalena, 7 de Novembro de 2008

Pétala que voa


No alto desta colina,
penso em nós,
sinto uma angústia no peito,
uma raiva no coração.
Recordo os teus gestos,
o teu olhar,
os teus lábios apertados contra os meus
o toque suave do teu corpo,
as tuas palavras,
as palavras...

Foi tanta a paixão...
Tanto o amor...
Falávamos,
faziamos planos,
parecia tudo tão real,
tão verdadeiro.
Como eu acreditei e me entreguei a ti.

Recordo cada momento.
Dói, dói demais,
Dói a mentira,
Dói o engano,
Dói-me muito mais
que não te ter.

As luzes da cidade
já brilham lá em baixo,
eu aqui,
sem saber o que fazer,
sem saber para onde ir.
O abismo convida-me
parece que grita o meu nome,
e diz-me, vem, vem...

Ah que revolta sinto em mim,
por ter sido tão crédulo!

Aconchego-me na fresca aragem,
embrulho-me na minha dor,
sinto o gosto salgado
que me escorre dos olhos baços.

Olho de novo o abismo.
Um arrepio percorre-me o corpo
Estremeço,
desespero.
O nosso amor,
o teu amor
se é que existiu
foi tão efémero,
como a vida de uma borboleta
como uma pétala que voa...

Será que alguma vez houve nós?

Madalena, 16 de Março de 2008

You Were Always On My Mind



"Palavras, por vezes, são como folhas caídas duma árvore levadas pela brisa da tarde ou por uma qualquer tempestade de Outono, outras vezes são como lâminas, cortam-nos o coração e despedaçam-nos os sentimentos, deixando-nos a sangrar por aquilo que parece uma eternidade. As palavras podem ter a doçura de um beijo, a ternura de um abraço, ou a força de um tornado. Podem ser uma declaração de amor arrebatado do mais profundo do nosso ser ou a raiva duma declaração de guerra. Podem levar-nos ao destino desejado ou ser um destino traçado, elevar-nos acima do comum dos mortais, ou fazer-nos sentir abaixo do mais ínfimo verme. Palavras são o que nos resta quando todas as promessas e esperanças se foram, levadas no turbilhão da corrente, atiradas da ponte que nos unia como margens dum rio.
Podem ter a força da espada ou o veneno da víbora, a beleza do por-do-sol ou a esperança do amanhecer dum novo dia. O grito da vida dum choro dum bebé ou o suspiro da morte doce e libertadora. Podem ser a secura agreste dum deserto ou o caudal transbordante dum rio de lágrimas. Felicitam-nos ou consolam-nos nos momentos de dor, fazem-nos sorrir e chorar. Podem ser verdadeiras, ou falsas, tal qual a pessoa que as pronunciou. Podem arrastar multidões, mas não convencer quem realmente interessava."


João Fernando 2000-2001

Fragmentos (ou poema a um amor antigo)


Fragmentos do passado
Ficam presos no presente.
Um lugar,
Uma conversa,
Um muro,
Um beijo,
Um poema
Que teimosamente me despedaça a alma,
Uma angústia.
Um nome...
...Mena.
Que dor é esta?
Que mágoa é esta?
Fragmentos de um passado
Que se prendem na minha memória
E por lá ficam...

domingo, 23 de novembro de 2008

Sombras


Mesmo quando a vida
Não parece querer sair da Lua Nova
Quando a estrada parece um sem fim de obstáculos
Quando não há luz no fundo do túnel
Nem brilham estrelas no céu
Nada mesmo nada parece valer a pena
Nem os rios correm para o mar
Nada corre bem
No horizonte apenas desalento e tristeza
O cinzento nada mais é do que isso, uma cor triste,
As sombras nos invadem a alma
O silêncio nos atordoa,
Lembramos que o amor é tudo o que nos resta
Tudo o que nos dá força, tudo o que nos levanta
E dá ânimo, damos a mão, o ombro, o peito, o colo,
Porque afinal só o amor tudo consegue vencer,
Até a mais tenebrosa das noites.


23 Novembro 2008

Cálice - Cale-se

Em 1973 no Brasil, esta canção foi proibida, o microfone do Chico Buarque a certa altura desligado... No ano seguinte em Portugal, conquistou-se a LIBERDADE, neste momento ao jeito George Orwell no seu " O triunfo dos porcos", podemos dizer que em Portugal, todos os animais são iguais, mas há uns mais iguais do que outros...



Em Portugal a democracia é aparente, também nós, ao falarmos, temos que olhar para o lado a ver quem está a ouvir. Infelizmente a corja já é toda igual, desde que acabou o Partido Socialista, substituido que foi pelo Partido do Sócrates, a esperança para este país desapareceu. Neste momento não há ditadura, mas há muita mentira, muito cinísmo, muita demagogia. A campanha eleitoral por parte dos nossos governantes já começou. Os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Dá vontade de gritar bem alto SÓCRATES "CÁLICE"...
E Corrupção? Igual a país de 3º mundo. ´
"Pensamentos Soltos" Maria Madalena

sábado, 22 de novembro de 2008

Até Quando?

No abismo mais profundo
Prendi a minha alma
A minha alegria.
Com a noite mais escura
Me cobri.

Na minha tristeza
Não há perfume de flores,
Nem o doce cheiro da terra molhada.
Na minha tristeza,
Estou eu,
Apenas eu.
Não consigo entender esta dor
Ou talvez consiga
E a não saiba exprimir
Ou não queira.

É minha.

A palavra fica presa
Esquecida,
Perdida,
Ignorada.
Desconheço uma
Que descreva
A minha mágoa,
A minha tristeza,
O meu sofrimento,
Principalmente
A minha revolta.

Presa entre Eu e Eu
O Eu que fui,
O Eu que serei
Nada existe
Apenas o Eu
Que nada é.

Sou irreal,
Uma sombra
Vagueando pela noite da vida
Na esteira da morte
Vergada pela solidão
Pelo desespero.
Alucino,
Contorço-me de dor.

O meu olhar,
Tantas vezes vazio
Não compreende
Simplesmente não compreende.

Mas dói
E como dói.
Não quero sair do buraco que cavei
Onde me refugio.
Não é o meu Jardim proibido,
Não há jardim
Sem flores,
Sem o chilreio dos pássaros,
Sem o brilho do sol.
Onde me escondo
Só existe
Negrume da tristeza
Esgares de dor
Silêncio da morte.

Até quando?
Até quando?

é assim...

Assim é como me sinto
na vida desalentada,
vou fingindo que vou indo,
mas ir é que não vou nada.


Talvez seja mais devir,
recuando pela estrada,
dentro de mim própria entrando,
sonhando que não sou nada.


Não quero mais este mundo,
eu não quero mais viver,
já bati mesmo no fundo,
tantas vezes quis morrer.


Agora resta-me estar,
ser eu própria a fingir,
nada mais posso esperar,
só a morte que há-de vir.

Estrela-do-mar

O Meu tributo a Cecília Meileres

Cecília Meireles uma das minhas poetisas brasileiras favoritas. Deixo aqui tês poemas escolhidos de entre aqueles que eu mais gosto.


Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,

no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolias
eu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...



Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus de
doscobre as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio…

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


Soneto antigo

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

domingo, 16 de novembro de 2008

Retratos

Provavelmente alguém como tu e como eu


Ontem, quando passei
junto às portas de St. Antão,
a caminho do Coliseu, perguntei-me,
quem Foi aquele homem
que agora dorme embrulhado
numa manta de farrapos,
junto daquela parede?


Uma qualidade


Como todo o ser humano
tenho defeitos e virtudes,
no entanto
há uma que reconheço em mim,
é que entendo tão bem as palavras,
como entendo o silêncio.


O Velho

Era um velho,
um rosto enrugado,
cujo sorriso se escancarava em janelas.
Zombavam dele,
aquela rapaziada nova
que com tudo se diverte,
de qualquer coisa fazem troça.
Pensei,
coitados será que não percebem
que um dia,
se lá chegarem,
também serão como ele?

25 de Fevereiro de 2008


sábado, 15 de novembro de 2008

E nós?...

Alguém dorme sob as arcadas da ponte
E nós lavamos as mãos
Alguém busca comida nos contentores
E nós lavamos as mãos
Morre-se nos hospitais à míngua de médicos
E nós lavamos as mãos
Filhos agridem pais e professores
E nós lavamos as mãos
Abandonam-se bebés nos contentores
E nós lavamos as mãos
Assaltam-se carros, bancos, tudo e todos
E nós lavamos as mãos
Temos o país a saque por vampiros a quem chamam gestores
E nós lavamos as mãos
Fecham-se as fábricas, famílias inteiras para a miséria
E nós lavamos as mãos
Quando será que deixamos de ser Pôncio Pilatos perante tanta maldade
E agimos?
João Fernando, 15 de Novembro

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

“Barão de olhos vermelhos” – ou o serão de sexta-feira…


Doze minutos, doze quilómetros, podem até nem ser muito coisa, que um segundo na vida tem tantas quantas as diferenças quão diferente for o tempo que precisamos. Podem até ser a diferença entre entrar no carro todo sorridente e ao sair é o corpo do meu piratinha a pedir colo, os olhos vermelhos de febre, “dói-me a garganta”, “dói-me a barriga”, “não consigo comer”, todo o tempo a pedir o colo da mãe, nem o “kispo” quis despir. De volta a casa lá vai Ben-u-ron da praxe e lá vai uma corrida à procura da farmácia de serviço para aviar o Zithromax, sim que isto cá em casa às vezes parece uma mini-farmácia entre pai, mãe e filho.
Sexta-feira à noite devia ser tempo da “night”, de diversão, mas parece que foram todos à procura do mesmo, até só tenho uma dúzia de pessoas à minha frente, nada mau. Espero cá fora, ao frio, ali mesmo ao lado mais uma das muitas lojas chinesas por esse país fora e lá vou eu em busca do medicamento milagroso para qualquer criança (que bom que seria se assim fosse, mas adiante, não me estraguem a magia do momento) e saio de lá com um biplano todo cromadinho, a hélice até roda activada pelo movimento das rodas.
Volto a casa e o meu piratinha está todo encolhido, adormecido no colinho da mãe. Levamo-lo para a cama? Abre os olhos, mortiços, raiados de vermelho, que não, só se o pai se deitar comigo. Mostro-lhe o biplano, voa para a cama o meu barão de olhos vermelhos, até dá rajadas de gargalhadas enquanto eu lhe vou fazendo acrobacias com o pequenino biplano como se um ás radical se tratasse, pai ajuda-me, a hélice não roda, deito-me a seu lado, o seu corpo é um autêntico irradiador de calor, os olhinhos tão vermelhos, mas as gargalhadas continuam vencendo o cansaço, o meu barão vai fazendo “loops” até que se lembra, “ó pai assim o piloto cai se não tiver cinto” e lá endireita o pequeno avião, aterra o ás dos ares, traz o João Pestana a bordo, adormece o filho, adormece o pai. Ali no quarto ao lado, no nosso escritório a mãe às voltas com salas virtuais para os alunos, relatórios e mais relatórios, bem que lhe apetecia fazer voar tudo janela fora.
Bons sonhos meu filho.

14 de Novembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Não me queiras


Não me ames que não te quero,
Não te quero não,
Desejo-te.
Não me ames
Deseja-me,
Prova-me,
Depois se gostares do gosto da minha pele
Ama-me então
Ou deixa-me para sempre.
Não me queiras
Sem antes saberes
Quem sou,
O que sinto,
O que quero.
Se tu o souberes
Fugirás
Dá medo um amor assim.

Não me ames, não me queiras
Sem que tenhas certeza de quereres este amor.

Amor, mas que amor?
Desejo, paixão, loucura,
Vontade de te ter sempre dentro de mim.
Vontade de beber as tuas palavras,
Vontade de sugar o teu sentir
Vontade de rasgar as tuas roupas e te aprisionar para sempre
Nestes braços,
Neste corpo.

Foge, estás a tempo
O que sinto não é amor é insânia,
Ou então vem comigo,
Vem, vamos fugir os dois
Na cauda de um cometa.
Refugiemo-nos na Lua,
Onde não nos possam encontrar.
Quero-te só para mim.

Por isso se não me queres
Não me ames,
Foge,
Vai-te,
Antes que a loucura me consuma por completo.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Está tudo mal

Os meus sentidos estão despertos,
Espero-te Sei que vens,
Que não podes viver sem a minha pele,
Sem o meu respirar,
Sabes que vivo no fundo do mar,
Sou a tua estrela,
Sabes que quando não me encontrares na praia
Te basta olhar o céu, para que me vejas.
Sabes que gosto do sabor salgado das tuas lágrimas
Quando te quero, limpar a tristeza.
Sabes que gosto mais ainda do doce sabor dos teus lábios
Quando me beijas.

Não demores
Eu preciso de ti,
tanto quanto tu de mim.
Sei que tens medo,
Não tenhas,
Não tenhas medo do amor,
Sabes que eu não sou real,
Mas é-o o meu amor por ti.
Não temas, estarei sempre a teu lado,

Esta distância que nos separa
Une ainda mais os nossos etéreos corpos.

Amo-te, tu sabes,
Mas sabes quantas vezes to disse,
A maioria sem que me ouvisses?

Eu também tenho medo
Medo de perder-te,
Medo que te fartes de uma simples estela-do-mar
E que queiras alguém real.
Eu sei que tens razão,
Sei que tens direito a esse amor
Que não te posso dar.

Mas entretanto vem meu amor,
Vem até mim
Deixa-me namorar-te,
Deixa-me fazer amor contigo,
Deixa-me que seja tua,
Pelo menos em sonho.

Se soubesses como gosto
Da doce melodia das tuas palavras
Ditas ao meu ouvido.
Nem que seja para me dizer
“que está tudo mal”

Sabes que a minha insanidade vai aumentando
E que tudo o que escrevo é sonho
Um sonho que eu queria verdadeiro.
E choro quando me dizes “que está tudo mal”
E como se o mundo desabasse sobre mim
Eu fico esmagada sob o peso dessas palavras.

Maria Madalena, 6 de Novembro de 2008