segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

As tuas palavras

(prado verde de Gustav Klimt)


Esta manhã cai uma chuva mansa
devagarinho
entranha-se na terra
quase imperceptivelmente.
Inunda-a da seiva que lhe dá a vida,
por ela,
na primavera,
uma multiplicidade
de cores,
de flores,
de plantas,
de frutos
desponta.
Amadurecerá no verão,
E no outono deliciar-nos-á
com uma explosão de cores.
De novo, no inverno
a mesma chuva irá bater de mansinho
no vidro da minha janela.


Como a chuva que mansamente vai caindo,
assim lentamente as tuas palavras
se vão entranhando em mim
inundando o meu coração
envolvendo-me
numa uma doce paz
tecendo à minha volta uma teia
de um delicado amor extasiante.


As tuas palavras...
preciso delas
tanto como a terra,
da chuva mansa.


Sem elas,
torno-me
árida,
morro
e a semente que vive em mim
nunca florescerá.


Maria Madalena, 29 de Dezembro de 2008

domingo, 28 de dezembro de 2008

Dentro de alguns dias




2008 Chegou ao fim, aquele ano novinho em folha que festejámos às 24 horas do dia 31 de Dezembro de 2007, está agora prestes a morrer para dar lugar ao seu sucessor e…
… dentro de alguns dias…

De repente, num instante fugaz, os fogos de artifício anunciam que o ano novo está presente e o ano velho ficou para trás.
De repente, num instante fugaz, as taças de champanhe se cruzam e o vinho francês borbulhante anuncia que o ano velho se foi e ano novo chegou.
De repente, os olhos se cruzam, as mãos se entrelaçam e os seres humanos, num abraço caloroso, num só pensamento, exprimem um só desejo e uma só aspiração:
PAZ E AMOR.
De repente, não importa a nação, não importa a língua, não importa a cor, não importa a origem, porque todos são humanos e descendentes de um só Pai, os homens lembram-se apenas de um só verbo:
AMAR.
De repente, sem mágoa, sem rancor, sem ódio, os homens cantam uma só canção, um só hino, o hino da liberdade.
De repente, os homens esquecem o passado, lembram-se do futuro bem-aventurado, de como é bom viver…
De repente o Novo Ano vai chegar a esta estação da nossa vida e, se não puderes ser o maquinista, sê o seu mais divertido passageiro. Procura um lugar próximo à janela desfruta cada uma das paisagens que o tempo te oferecer com o prazer de quem realiza a viagem pela primeira vez.
Não te assustes com os abismos, nem com as curvas que não te deixem ver os caminhos que estão por vir. Procura desfrutar a viagem da Vida, observando cada arbusto, cada ribeiro, as cores da natureza que vão deslizando através tua janela. Desdobra o mapa e planeia a tua rota.
Presta atenção em cada paragem e fica atento ao apito da partida.
E quando decidires descer na estação onde a esperança te acenou não hesites. Desembarca nela os teus sonhos... Desejo que a tua viagem pelos dias do próximo ano, sejam
TODA FEITA EM PRIMEIRA CLASSE.

E sempre que a tristeza, a decepção, o pessimismo, o desânimo, te invada o coração e a alma, não esqueças a história das…

“Quatro Velas”

Quatro velas estavam queimando calmamente, o ambiente estava tão silencioso que se podia ouvir o diálogo que travavam:
A primeira vela disse:
- Eu sou a Paz!
Apesar de minha luz, as pessoas não conseguem manter-me, acho que vou apagar-me. E diminuindo devagarinho, apagou-se totalmente.
A segunda vela disse:
- Eu chamo-me ! Infelizmente sou desnecessária.
As pessoas não querem saber de mim. Não faz sentido continuar queimando.
Quando terminou o que tinha a dizer, um vento levemente bateu sobre ela apagando-a
Baixinho e triste a terceira vela também se manifestou:
- Eu sou o Amor! Não tenho mais forças para continuar.
As pessoas deixam-me de lado, só conseguem olhar para si próprias, esquecem-se até daqueles à sua volta que as amam. E sem esperar apagou-se.
De repente... Entrou uma criança e viu as três velas apagadas.
- Que é isto? Vocês deviam arder e ficar sempre acesas, dizendo isso começou a chorar.
Então foi a vez da quarta vela falar:
- Não tenhas medo criança.
Enquanto eu estiver acesa, podemos atear as outras velas.
Eu sou a Esperança.
A criança com os olhos brilhantes, pegou na vela que restava e acendeu todas as outras...

ESPERO QUE A VELA DA ESPERANÇA NUNCA SE APAGUE DENTRO CADA UM DE VOCÊS.
Por isso para cada um dos meus queridos amigos eu desejo com muito amor e carinho que tenham um Maravilhoso Ano Novo.


Obrigada por cada momento que, com todo o carinho, me ofereceram neste ano que terminou.

Maria Madalena, 28 de Dezembro de 2008


(Os textos que não se encontram escritos a itálico, são de autores que desconheço)

Um poema


Um poema não são palavras,
São trilhos, sulcos, na terra lavrada,
Sementes lançadas em terreno fértil,
O da nossa imaginação.
Terra lavrada por arado puxado por juntas de bois,
Ou tractor arfando pela terra seca e barrenta.
Um poema vem dum momento de tristeza,
Ou duma gargalhada que ecoa pelos vales do teu corpo.
Um poema é um bouquet de rosas,
Vermelhas, amarelas e brancas,
Com perfume de junquilhos,
Com o sabor salgado do mar,
E as cores dum pôr-do-sol,
Bem lá no alto,
Ou as dum arco-íris
Em dia de tempestade.
É o choro de vida duma criança,
Olhos abertos para a vida,
Gatinhando e caminhando pelo mundo,
Sulcando o seu próprio terreno,
A Vida que nós gerámos,
Um poema que trazes dentro de ti,
O nosso mais belo poema,
Prosa no teu ventre.

6 Julho 2004

Ano Novo

"Novo Ano, mas não nova vida. Quem pensa em ser mais crédulo, se tem medo de ser enganado? Se o mundo é de enganos, por que não deixar que nos façam pirraças e troças? Ninguem quer ser parvo, e é pior: porque para não ser enganado, desonra-se como pessoa de lisura e sinceridade. Há mais cobardes em ser iludidos, do que em ir para a guerra. Quando os simples são afinal os mais poderosos e quem cede, ganha."

Agustina Bessa Luis


Por isso deveriamos todos ser simples, simples e fortes como um estrela-do-mar que não receia o mar que a abriga e que se regenera sempre lhe arrancam um pedaço.


Feliz Ano Novo e desejo para vocês tanto, como para mim, uma nova vida, pelo menos vivida sem receios e a fundo.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Puff the magic dragon

Peter, Paul & Mary, e o seu Puff the Magic Dragon, quem não se recorda? Infantil? Não o somos todos nós?

... e a versão animada...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Há uns dias escrevi "não sei se sou eu que fujo dos outros ou se são os outros que fogem de mim", hoje pergunto-me, será que sou eu que não entendo os outros, ou são os outros que não me entendem a mim? Eu julgo-me louca, mas olhando ao meu redor vejo tanta insanidade que me pergunto, sou eu que sou a louca no mundo ou os outros que enlouquecem sem mim?
Há pessoas extraordinárias, tão extraordinárias, que de tão extraordinárias acabam por se tornar ridículas, eu conheço uma ou duas assim. Há quem se julgue especial mas as suas palavras, as suas acções são contraditórias.
Houve um tempo, não muito longe, que admirava as pessoas pela originalidade da sua personalidade, conheci uma ou duas assim, mas descobri afinal que essa originalidade nada tinha de originalidade, hoje poderei chamar-lhes inseguros? Tristes? Perversos? Grosseiros? Solitários? Ou simplesmente, simplórios?
Por vezes olho uma tela e admiro-a, gosto dela, transmite calor, força, emoção, mas pouco tempo depois, decepcionadamente descubro que estou a vê-la ao contrário, irónico não é? Depois ao virá-la, que tristeza, não tem beleza nenhuma.
Sou sinuosamente linear, amo as pessoas pelo seu interior.
Há as que gostam de ser enigmáticas. São personalidades interessantes, mas não conseguem ser eternamente interessantes, são demasiadamente artificiais e mais cedo ou mais tarde revelam-se, deixam cair a máscara tornando-se demasiadamente e enjoativamente previsiveis, de tal forma que consigo saber qual o passo que irão dar a seguir.
Como tudo o que é misterioso, quando deixa de o ser, acaba por perder o interesse. Quando se trata de pessoas, se a amizade não se construiu ou consolidou é o fim, nada fica, nem tão pouco saudade.
Gosto de pastéis de nata, do mar, da liberdade, do amor, da amizade, da sedução, de brincar, de namorar, de respeitar os outros, de aprender sempre mais e mais e mais.
Amizade, o que é a amizade? Utopia? Quero acreditar que não.
Respeito pelos outros? Utopia? Quero acreditar que não.
Aprender eu aprendo, certezas? Não as tenho, ninguém as tem, mas há um limite para se conseguir tolerar gente megalómana, ou que se apresenta como tal, e o meu limite aproxima-se vertiginosamente do fim. Estarei a ver o filme ao contrário? Não sei, não quero saber, não sou especial, nunca o quis ser, quero apenas que me tratem como uma pessoa absolutamente normal, mesmo que o não seja. Mas afinal não há pessoas normais, nem espíritos especiais, há apenas pessoas.

"Pensamentos soltos" 26 de Dezembro de 2008

"Em todas as ruas te encontro, em todas as ruas te perco"
Mário Cesariny"

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espectáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade

Joni Mitchell

Conhecer a Vida de ambos os lados, por cima e por baixo, conhecer o Amor de ambos os lados, por dentro e por fora, entrarmos nas "nunvens" e perdermo-nos no seu nevoeiro, para nos encontrarmos interiormente.



Uma versão dos idos anos 70

Sonho ou realidade, qual escolher?

É triste ir pela vida

É triste ir pela vida como quem
regressa e entrar humildemente por engano pela morte dentro

Ruy Belo


"Na generalidade

Na generalidade, é claro, [as pessoas] representam o papel que a sociedade espera delas: casam, trabalham, têm filhos, fundam um lar, votam, tentam mostrar-se perfeitas e respeitar as leis. Mas cada uma delas - homems, mulheres, crianças - possui uma vida secreta da qual raramente falam e que quase nunca chegam a revelar. E esta vida secreta, para cada um de nós, encontra-se povoada de fantasias ardentes, necessidades incríveis e desejos sufocantes Que não são vergonhosos em si, mas que nos ensinaram a considerar como tal..."

Sanders

Acrescento eu, todos temos os nossos jardins proibidos nos quais apenas nós entramos, e nesses jardins sentimos um prazer sublime, é tão bom sentir assim...
Não me envergonho dos meus desejos sufocantes, nem das fantasias ardentes, gosto delas e desde pequena que as alimento, dão-me prazer. Porque haveria de sentir vergonha? Quando os não posso viver na realidade vivo-os na escrita, na minha e na dos outros. Não vai ser esta sociedade hipócrita que me vai dizer, ou ensinar de que hei-de ter vergonha, isso sou eu quem decide. Vergonha? Vergonha tenho eu de fazer parte desta humanidade podre.
"Pensamentos soltos" Maria Madalena, 26 de Dezembro de 208




Porque é que este sonho absurdo

Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.

José Gomes Ferreira

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL





A minha amiga Fatinha perguntou-me que prenda queria eu para este Natal, a única prenda que eu queria receber este Natal, era perceber o porquê de tudo o que não entendo. E o que não entendo? O que é o Ódio, a Inveja, a Vingança e o Ciúme. Se não existissem estes sentimentos...


... What A Wonderful World…



FELIZ NATAL

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Grandes poetas



Os maiores poetas
São aqueles que
Com versos simples
E pequenos poemas,
Nos fazem sentir
Grandes emoções.










Maria Madalena, 23 de Dezembro de 2008

A Maçã

Ontem, dia 22 de Dezembro, o meu filho mais velho atingiu a maioridade, que é como quem diz, completou 18 anos. Como a crise chega a todo o lado, em vez de ir fazer a jantarada a um restaurante, resolvi, eu que detesto cozinhar, fazer o jantar em casa, Bacalhau à Brás, ou Braz, ou lá como quiserem que se escreva, e como a frutinha é saudável, para sobremesa, fiz uma salada de frutas com tudo a que tem direito, vinho do Porto e tudo. Aqui há coisa de dois dias fui ao hiper para comprar tudo o que precisava, laranjas, ananás, uvas, peras, e maçãs, maçãs, lindas maçãs, peguei numa vermelhinha, polidinha, linda, pensei "que bela peça fruta, se fosse mulher, ganharia o prémio de Miss Universo", agarrei-a logo, porque ao meu lado, um senhor com ar guloso olhava para ela pronto para a pilhar. Ontem quando estava a fazer a dita salada de fruta, peguei na maçã mirei-a de novo e veio-me à ideia, “se a envernizasse, ficaria assim linda toda a vida e eu punha-a na fruteira e poderia admirá-la sempre que quisesse”, mas logo voltei a mim e disse para mim própria, em pensamento claro, que ainda não falo sozinha, ainda, estou lá perto, mas ainda não, como estava explicando, disse de mim para mim, “que ideia tão parva”, as maçãs fizeram-se para se comer, não para se guardarem numa fruteira para se adorar como a um santo no seu nicho. Comecei a descascar devagarinho a bela maçã para poder aproveitar o mais possível aquele belo pedaço de fruta, lentamente a ia despindo da sua capa vermelha e a sua cor esbranquiçada, mas não menos linda, lá se ia revelando, acabada de descascar, e como a salada de fruta se faz com a dita fruta cortada aos pedaços, dei um corte na maçã de alto a baixo que a deixou dividia em duas metades. Pasmei, a bela maçã, por dentro, meu Deus, estava completamente podre, nada se aproveitava, o coração negro e à volta aquela cor acastanhada de fruta podre, ficando só uma pequena camada em toda a volta de fruta sã. Deitei-a imediatamente para o caixote do lixo, afinal de que me servia uma maçã podre? Peguei noutra que estava ali mesmo ao lado, com um ar enferrujado e um aspecto mirrado, pensando, “mais outra para pôr fora, daqui a pouco fico sem maçãs para a salada”, acabada de descascar, a maçã, e feito o corte, tinha um aspecto delicioso, hum, com um cheirinho a maçã, doce, doce, não resisti, comi-a logo ali todinha. Para a salada é que não ia, aquela maçã de aspecto raquítico mas tão saborosa havia de ser só para mim!
"Pensamentos Soltos" Maria Madalena, 23 de Dezembro de 2008

domingo, 21 de dezembro de 2008

Há dentro de nós

Há dentro de nós
Outros universos
Que nos dão estranha força;
Estranho poder;
Estranho espanto.
Há dentro de nós
Uma frustração de Ser.
Há dentro de nós
Uma vontade de tudo.
Há dentro de nós
Grossas amarras
Que nos prendem
A esgotadas e caquéticas
Transcendências.
Há dentro de nós
Um grito feito lâmina
Que anseia cortar
De uma só vez
As palavras da nossa insignificância.
Ainda somos prisioneiros de nós.
Quando nos julgamos libertos,
Afogamo-nos em demagógicas
Orgias temperamentais.
Somos falhados aprendizes de Vida.
Lavamos no Tempo
Repetidas frustrações
E devoramos em tumultuoso silêncio
A raiva que nasce
Nos sentidos.
Até à descoberta de uma “nova” verdade,
Repousamos no plano vertical
E adormecemos lentamente
Acordando mais tarde
Na singularidade
Troglodítica da existência.


Existir é um acidente da humanidade.
Existir é o princípio de um ir-sendo
Na longa viagem em demanda de nós
Que somos em pedaços,
Deuses
Em estado semi-mortal de vida latente.


Ângelo Rodrigues

Num Paraíso por Inventar

Deste céu de crepúsculo
Antes de um certo anoitecer
Sai uma cor divina de ouro-laranja
Que se fixa na estranha melancolia
Do grandioso momento.


O Silêncio é a consagração mais sublime.
Silenciosa-mente respiro
A enigmática cor deste acontecer.

Mais logo estarei com Ela
Num paraíso por inventar.



Ângelo Rodrigues

Quando

(Gustav Klimt – Jardim com Girassóis)

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.


Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Terror de te amar


Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.




Sophia de Mello Breyner Andresen

Gosto de ti



Já pensei dar-te uma flor, com um bilhete, mas não sei o que escrever,
sinto as pernas a termer quando sorris para mim,
quando deixo de te ver...
Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim.
Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti desde aqui até à lua,
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.

Gosto de ti, simplesmente porque gosto, e é tão bom viver assim...

Ando a ver se me decido, como te vou dizer, como te hei-de contar,
até já fiz um avião com um papel azul,
mas voou da minha mão...
Vem jogar comigo um jogo, eu por ti e tu por mim.
Fecha os olhos e adivinha, quanto é que eu gosto de ti.

Gosto de ti desde aqui até à lua,
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto, e é tão bom viver assim...

Quantas vezes parei à tua porta,
quantas vezes nem olhaste para mim,
quantas vezes eu pedi que adivinhsses,
o quanto eu gosto de ti.

Gosto de ti desde aqui até à lua,
Gosto de ti, desde a Lua até aqui.
Gosto de ti, simplesmente porque gosto, e é tão bom viver assim..."

André Sardet

sábado, 20 de dezembro de 2008

Fénix

Cavalgaste as ondas do mar
e as do meu corpo.
Ondeando-nos
entraste bem dentro de mim
e morri
morri de prazer
depois?
Depois renasci
para de novo
contigo
morrer mais uma vez.





Maria Madalena, 20 de Dezembro de 2008

No cinzento dos teus olhos

No cinzento escuro dos teus olhos
mergulho
um frio gelado envolve-me
e sofro
uma dor que
ao mesmo tempo
é
e não é a minha.


Pelo cinzento dos teus olhos vivo
e sofro
por saber que o cinzento dos teus olhos
já brilharam por outra...
da mesma forma que hoje brilham para mim.


Que tens de novo para me dar?


Maria Madalena, 19 de Dezembro de 2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Estórias, como diria Jorge Amado

(...)e a conversa foi-se aprofundando, conseguia conversar com ela e abrir-me com essa pessoa duma maneira que julgava enterrada muito abaixo do manto da terra. (...)e eu que julgava ter encontrado aquele amor para o resto da tua vida decido duma vez por todas sair de casa. Para sempre.
Digo isso mesmo à (...), e já agora ficas com o carro, a casa, o terreno comprado pouco antes, eu pago-te isso tudo e ainda lhe dava cem contos depois de pagar água, luz e telefone (este último fartei-me das contas de trinta contos por causa da Internet e para o fim deixei de pagar)...


João Fernando, 21 de Dezembro de 2002

(E por ser verdade não a devemos ignorar, nem esconder, nem fazer de conta que não existiu... as situações repetem-se como um ciclo, não é por mim, não foi por mim, foi pela tua necessidade de te libertares e de amares)

Em busca duma canção...

Por onde ando
E procuro...
No teu corpo,
O meu sonho...
Nas colinas verdes
Dos teus seios
Onde adormeço
E descanso...
Nos contornos primaveris
Da tua pele,
De planícies verdes maduras,
Que decalco e percorro...
Na verde frescura
Da tua boca
Onde sacio
A sede de te amar...
No teu fértil delta
Verde e quente mulher...
Onde dasagua,
0 teu desejo...
Na encantada floresta
Do teu cabelo,
Que emana o teu aroma
de mulher...
E procuro...
No teu doce olhar
A luz da tua alma,
A chama do teu devir.
Que ao procurar por ti...
Encontro a essência de viver,
Refresco a minha alma,
E me faz esperar por ti...

Ramarago

Casas de Sofrer


( A figura: "O Fado" de José Malhoa, convertido a preto e branco, de 1910)

Na semana passada, certo inglês, de passagem por Lisboa, quase me implorou, farto do Idêntico em toda a parte:- Mostre-me qualquer coisa que não exista noutro país. Há?Meditei meio segundo e respondi, telegráfico:- Há. «Cabarets».O senhor estrangeiro encolheu os ombros em trejeito de desdém. Mas eu teimei:- Sim. «Cabarets» …«Cabarets» estranhos, ao contrário, de pernas para o ar, sem «jazz» nem pretos de dentes brancos a soprarem gargalhadas nos saxofones. «Cabarets» … do avesso em que não se encontram mulheres de riso fatal a dançarem ao som macabro do estalar das rolhas das garrafas de champanhe. Autênticas Casas de Sofrer – onde se servem indigestões de mariscos e bebidas tristíssimas – construídas de propósito para pessoas, com fumos de luto nas mangas, que pretendem chorar em público sem medo do ridículo. «Cabarets» – válvulas-de-escape, em suma…Venha comigo e verá.Tomámos um táxi, descemos uma viela sonâmbula, abrimos a porta de vidro em frente e pisámos com reverência o veludo do tapete de cascas de tremoços do Salão de Fados em que duas dezenas de seres, palidamente diluídos no rumor das vozes em surdina, se preparavam para sofrer em comum.Ambiente de bicos de pés. Os criados deslizavam, irreais, com sapatos fantasmas, para não perturbarem a dor dos clientes que, de cabeça pesada entre as mãos, parafusavam neste tema de meditação irresolúvel: «A vida é uma chatice!» (…)Ia começar a função. No estrado alinhavam-se duas cadeiras à espera do viola e do guitarrista que entraram pouco depois em ritmo de enterro. O cantor também não tardou a surgir no catafalco, mancha negra dos cabelos até aos sapatos, solenidade de telegrama de pêsames, lívido, suado, sinceramente infeliz, cara de serenata à meia-noite a noivas morta…Houve um sussurro espectral. Os ouvintes ajeitaram-se o melhor possível nos assentos para sofrerem com comodidade.

(De “O Irreal Quotidiano”, José Gomes Ferreira - 2ª Ed. pp. 125/6. Lido em “Português contemporâneo, antologia e compêndio didáctico, Mendes Silva, Ed. M.E.C, 1986)

Quando nos conhecemos...


Quando nos conhecemos, mandei-te um texto meu e um poema dum grande amigo meu dedicado ao seu grande amor.
Hoje escrevo-te eu o meu, a ti meu amor de todos os dias...


Nas areias brancas do teu corpo,
o meu corpo feito mar
vai desmaiar em ondas de prazer,
do teu corpo de colina
saem espasmos,
terra tremendo de sede e desejo
da tua boca gemidos,
dos teus lábios húmidos
sequiosos da minha boca,
do meu corpo,
um implorar para que entre em ti
e tu me sintas todo dentro de ti,
dos teus lábios
que eu beijo ao de leve,
profundamente,
demoradamente,
que me beijam e arrepiam,
me fazem encolher de prazer,
desfalecer num momento
que parece não ter fim,
sinto as tuas mãos no meu corpo,
os teus dedos num toque suave de um beijo,
a saudade de não te ter aqui a meu lado,
aqui, ali,
onde quer que esteja sem ti...

João Fernando
Massamá, 19 de Dezembro 2008

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Meu Alentejo, minha paz

Não sei que dor é esta que me sufoca.
Tem a cor do céu
E do doirado das espigas de trigo.
Do calor ardente
Das casas caiadas de branco.
Não sei que dor é esta.
Ou melhor, sei-a bem
mas não digo.

Maria Madalena

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Simplesmente tua

Sentei-me à beira mar
Doce e tranquilo o som das ondas
Que suavemente
Me embala,
Cada uma que vem morrer na praia
Traz-me
Recordações de
Sonhos perdidos,
Abandonados,
Há muito esquecidos.

Pé ante pé chega a noite
Minha companheira,
Trazendo com ela uma Lua plena,
E plena me sinto eu
De amor,
Novos sonhos,
E poemas.

Chegas, e
Sem esperar cobres-me
Calmamente,
Lentamente,
Docemente
De beijos com sabor a mel e a sal.

Nesta noite
Realizas
Cada um dos meus desejos,
Mais secretos,
Mais íntimos.

Suavemente o dia nasce
Sorri-me o Sol,
Ou imagino eu que me sorri,
Pois ainda sinto em mim
Os teus lábios,
A tua pele,
O teu corpo,
Todo o amor que fizemos.

Quando estás
Não sou mais dona de mim.
Possuída por ti…
…sou simplesmente tua.


Maria Madalena e Fátima Mourão

domingo, 14 de dezembro de 2008

Amizade

Da minha amiga Paulinha, depois da sua apresentação do seu primeiro livro de Poesia, na qual estive presente com muito carinho por ser a amiga que é.

Que sorte eu tenho de ter amigos assim, e a Ana Sérgio é outro amor de colega, há mais de uma década que somos colegas na mesma escola, vidas vividas, muitas emoções, alegrias, tristezas partilhadas, por tudo isso e só por isso vale a pena viver num mundo assim.

Para a Ana Sérgio e Madalena

Minhas Amigas,
Bem-Hajas pela vossa presença tão significante ontem, na ESMA:

Esses abraços
os gestos
e as palavras
ficaram
cristalizados
na minha alma...
Há presenças assim:
do tamanho
da minha Gardunha
respiradas no silêncio
e manifestas
nos gestos espontâneos
de quem partilha
sentidos
e busca a mesma paz...
ansiosamente...
No ouvido
ainda ressoam
essas palavras,
talvez exageradas,
para quem não merece
tanto
e dá tão pouco.
Há momentos assim:
que nunca serão apagados
porque valem o tesouro
da amizade.

Um Beijo,
Dois,
Um para cada uma...
entre o abraço doce...

Paula Silva

sábado, 13 de dezembro de 2008

For the first time

Eu sei, mas não devia


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos
e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,
aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
A luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
A contaminação da água do mar.
A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,
a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,
um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo
e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se
da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,
de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colasanti

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Have I told you lately that I love you

Ele anda Louco e não é pouco...

Eu não sei o que é que me deu




Escorre-me da boca o beijo
Que esta noite não te dou
Cai-me das mãos a carícia
Que esta noite te não faço.

A minha pele chama pela tua
Os meus lábios esperam os teus
Num beijo,
Num beijo que se entrelaça
Que vai descendo pelo ombro,
Pelo braço
Até à palma da tua mão.
Num beijo que recomeça
Na tua nuca
Que lentamente percorre
O teu corpo
Até te entontecer de desejo
Até gemeres de prazer.

Esta noite
Estou só,
Mas só
Esta noite.


Maria Madalena, 11 de Dezembro de 2008

Escrevo para Ti


Lindo, bonito, belo, extasiante, ou talvez nem tanto, apenas belo.
Quereres-me? Tal como um cego quer a luz e não a tendo, resta-lhe sonhar com ela, que imagem terá, na sua mente, essa luz? Terá exactamente a forma que ele mais desejar. Terei eu a forma que tu mais desejas? Terás tu a forma que eu mais desejo? Imagino-te então sem forma, apenas tinta em papel branco.
Bonitas palavras, todas juntas compõem belas frases, todas juntas poderiam ser pequenos hinos ao desejo, à paixão, poderiam, mas não são, são apenas um lindo texto, lindo, mas vazio, oco.
Podemos escrever odes ao desejo, à paixão, ao amor, porque realmente o sentimos, podemos até escrever odes à Mulher, porque lhe conhecemos a sua essência, mas não conseguiremos escrever com conteúdo algo a quem não conhecemos, nem tão pouco procuramos, ou nos interessa conhecer.
Eu faço amor com as palavras e o resultado desse amor, ofereço-o a quem amo, à minha paixão, ou simplesmente a quem desejo, mas ofereço-o a alguém que é mais do que uma simples tinta no papel, ou palavras num ecrã.
Quando leio um belo poema ou um belo texto de amor, faço-o meu, deixa de ser de quem o escreveu e passa a ser meu, meu e da minha realidade ou do meu imaginário que é construído pelos meus desejos, ambições, paixões concretas ou secretas.
Não me escondo por detrás de belas palavras, de belos textos, desprovidos de contexto. Revelo-me e sou autêntica, porque eu sou alguém que existe realmente, sou alguém que SOU. Jogos de palavras, lindas declarações de amor, deixam de fazer sentido quando não lhe damos o seu real sentido, um contexto.
Poderíamos ficar aqui eternamente neste sensual jogo de palavras, mas acredita, a partir de certa altura nem evocando todos os deuses gregos, romanos, egípcios, todos os deuses da Terra, eu consigo escrever algo com conteúdo. As minhas palavras não fazem eco em ti, apenas as absorves, as ignoras e o que me devolves é algo que nem é meu nem teu.
Sou uma mulher que gosta de viver as emoções a fundo, tirar delas tudo o que me possam dar, não consigo viver sem amor, sem paixão. Sou uma eterna apaixonada, sou feliz, sinto um amor pleno, sou amada, sei aquilo que quero, sou tenaz e não desperdiço o meu tempo em causas perdidas. Quando quero ler uma bela declaração de amor, leio O’ Neill, Neruda, Florbela Espanca, Eugénio de Andrade, Jorge Amado, Vinicius de Moraes, Gabriel Garcia Marquez, enfim uma infindável lista de escritores e poetas.
Não faço amor com as teclas de um PC, nem com as belas frases que aparecem no ecrã desse PC.
Eu contei-te quem era, revelei-me, tu continuaste a esconder-te atrás das palavras. Eu não preciso de te imaginar, de fazer de ti aquilo que mais desejo, eu já TE tenho bem presente a meu lado, fazes amor comigo, acordas ao meu lado todas as manhãs, cuidas de mim, amas-me, tal como eu TE amo, como eu cuido de ti, como te desejo com todas as forças do meu ser. Os nossos corpos suados, na realidade encontram-se na noite, durante o dia, na nossa cama, algures no alto dos Montes da Lua, numa clareira em Monserrate, ou num pequeno bosque numa daquelas ilhas achadas a que deram o nome de uma ave. É aí que as nossas bocas se encontram, que as nossas línguas se tocam, que os nossos gemidos se entrelaçam, que os nossos corpos entram numa doce convulsão, para depois terminar num beijo doce, num abraço em forma de concha que me envolve de alto abaixo. Se TE posso ter desta forma, para quê perder tempo com palavras vazias? Gosto muito mais de escrever poemas de amor que ofereço a quem os quiser para que os tornem seus e sentirem as emoções que lhes possam transmitir.
Não sei moldar as palavras, mas sei muito bem exprimir o que me vai, no coração.

"Pensamentos Soltos" Maria Madalena, escrito no dia 19 de Dezembro de um ano por inventar ou talvez já inventado.

Domingo à Tarde

Domingo à tarde
Há homens que acariciam o clitóris das esposas
Com dedos molhados de saliva
O mesmo dedo com que todos os dias
Contam dinheiro papéis documentos
Folheiam revistas, livros e jornais
E acariciam o clitóris das suas amantes…

Domingo à tarde
Há homens que penetram as suas esposas
Com tédio e pénis
Mecânico
O mesmo com que todos os dias
Enfiam o carro na garagem
Metem a mão ao bolso
Penetram as suas amantes…

Domingo à tarde
Há homens que dizem às suas esposas
Que as querem que as amam que as desejam
Das mesma forma com que todos os dias
Pedem o café o jornal um maço de cigarros
E dizem às suas amantes que as querem que as amam que as desejam…

Domingo à tarde
Há homens que depois do sexo dormem

Enquanto as mulheres na penumbra
Encaram o seu destino
Mas morrem de tristeza
Lembrando os seus sonhos
As amantes dos seus homens
O amor que sempre desejaram
E sonham com um príncipe encantado…

Domingo à tarde
Há dias assim
Domingo à tarde
Há vidas assim!

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
Miguel Torga

Pensamentos


"Apenas nos iludimos, pensando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Nao perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."
Desconhecido.

"Às vezes, parece que a vida não é mais do que um teste para nossa paciência e resistência. Há dias em que a alegria já acorda em nossa companhia; e há dias em que levantamos sem ânimo, sem mesmo saber para quê, pois até a esperança de felicidade parece extinguir-se. O cansaço e a desesperança atacam a todos, sem excepção; e há os que sucumbem e se rendem à vida, abandonando a luta e aceitando a derrota. Que tu não sejas um destes e acordes, hoje, como um bravo; alguém a quem a vida, muitas vezes, não oferece nada, nem mesmo a esperança - mas que, mesmo assim, cerra os dentes, levanta, reage e luta!Que acordes como um valente, de quem o destino pode tirar os sentidos e a respiração, mas não pode tirar a coragem. Pois, se a vida nos testa, mostremos a ela que nosso corpo pode ser frágil, mas que nossa alma é de aço.E que a espinha de um bravo verga, mas não quebra!"
Desconhecido

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008


Não sei se sou eu que fujo das pessoas ou se são as pessoas que fogem de mim...

Viver sempre também cansa

"Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.
"E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo..."

Devia morrer-se de outra maneira


Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir a despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. "Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes... (primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... ) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen... como aquela nuvem além (vêem?)
— nesta tarde de Outono ainda tocada por um vento de lábios azuis...
José Gomes Ferreira

domingo, 7 de dezembro de 2008

Feliz Natal

Para quem gosta de Kenny G e de saxofone, aqui fica um mimo...


E porque é Natal...


E porque é Natal aqui deixo dois poemas de que gosto:

Natal à beira-rio

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira


Falavam-me de Amor

Quando um ramo de doze badaladas

se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocava
so que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te consertas
só tu ficaste a ti acostumado.

Natália Correia

sábado, 6 de dezembro de 2008

O Menino está dormindo...

Já desabafei na mensagem anterior, aliviei a alma. Estamos em época de Natal, como todos dizem, Paz e Amor na Terra por entre os Homens, pena que seja preciso haver uma época para recordar o que deveria acontecer todos os dias do ano. O Puto pequeno, pela primeira vez pediu para fazer a árvore de Natal, comprámos o pinheiro, antigamente eu e o meu pai íamos apanhá-lo na mata, mas as matas desapareceram e deram origem a florestas de betão, por isso fomos apanhar o nosso ao Leroy Merlin, passe a publicidade. Pusemo-lo dentro de um vaso e enchemo-lo de fitas e bolas, vermelhas e amarelas, ficou com um aspecto Folk, mas o puto gostou, eu não ligo muito à árvore, para mim o que conta é o presépio, com ovelhas, pastores, e nem um galo para colocar em cima da cabana faltou, devia ser uma caverna, mas na falta desta uma cabana faz o mesmo efeito. Que é isso? Perguntou o puto, eu expliquei-lhe que era o menino Jesus, não pareceu muito interessado, afinal, na rua, no colégio, nas montras o que ele vê são árvores de Natal, por isso, para ele o Natal é feito de árvores coloridas, enfeitadas, iluminadas, e presentes muitos presentes, não de Menino Jesus. Também se eu lhe explicar que aquela criança ali representada numa pequena figura de barro, veio ao mundo para nos salvar, ele não entende, como há-de entender se eu própria não entendo. Será que há salvação para este mundo? Talvez um dia venham crianças iluminadas e inteligentes que tenham a função de construírem um mundo novo, porque este já não tem saída. Chamam-lhes as crianças Cristal e Índigo. Há-que ter esperança, não porque é Natal, mas porque sem esperança não podemos continuar, ou talvez possam alguns, eu não. Tão longe está o Natal de minha infância onde quem punha os presentes no sapatinho era o Menino Jesus, até o cheiro do pinheiro era diferente, o cheiro do ar, da brisa, das casas, cheirava a pinho, a filhós, a alegria. Hoje fala-se no pai Natal, uma invenção da Coca-Cola que pegou numa mistura de figuras míticas, para uns São Nicolau, para outros terá outro nome. Foi-se o Natal da minha infância, este é o que nos resta, é o que temos. Vou torná-lo meu, nunca igual ao que já foi. Mas o meu Menino Jesus está ali nas palhinhas deitado e para mim tem mais valor do que todo o brilho da árvore, das luzes, dos presentes, da hipocrisia "Da época de Paz e de Amor". Isso não existe, que o digam as crianças, os velhos, os sem abrigo, os pobres, que não têm casa, nem Natal, nem Paz e muito menos Amor.
"Pensamentos Soltos" Maria Madalena

Afinal quem somos ou o que somos. Onde está o nosso livre arbítrio?



Tenho saudades de quando eu era eu, de quando nem o Sol, nem a Lua, nem o mundo me paravam, de quando conseguia remar contra uma maré que me insistia em levar para longe de mim. Lutei, soltei amarras, mas as amarras que soltei originaram outras amarras mais fortes ainda, embora mais subtis, resisti, resignei-me, sobrevivi, de novo lutei, contra outro mar, ou talvez o mesmo que me insistia em arrastar para um lugar que não é o meu. De novo soltei amarras de novo me prendi, ou perdi, de novo as amarras que soltei me levaram a outras ainda mais fortes, a outras que ainda mais me prendiam e, muito mais do que remar contra a maré, tenho que lutar para me manter à tona. Uma luta que me destrói, que me desgasta. Afinal é tão simples, basta que me deixem, não à deriva, pois eu sei muito bem qual o meu rumo, mas pelo menos que deixem segui-lo. Não sou louca, sou depressiva, alguém disse, talvez depressiva nem seja o termos mais correcto, eu sou apenas, Apenas, desajustada. Desajustada de uma sociedade falsamente, hipocritamente, cinicamente amoral que insiste em rotular as pessoas, que insiste em acorrentá-las, quando essa mesma sociedade não exige o mesmo de si.
Inversão de valores, traumas, medos, ilusões, desilusões, inseguranças, que sei eu? Só sei que eu queria que me deixassem ser quem sou. Como posso mostrar o que valho se não posso ser eu? Se é que eu preciso de provar, ou mostrar seja o que for. Quem me ama, que me ama pelo que sou e não pelo que querem que eu seja. Estou cansada, não me reconheço, ou talvez me reconheça pelo facto de não me ter deixado subjugar por completo. O tempo o dirá, o tempo e a nossa capacidade de amar. Sei que tudo tem um limite, tudo, até o amor. Não devíamos sofrer por amor, mas a verdade é que a maior das nossas dores seja mesmo a que nos é causada pelo amor.
Lucidez? Tento tê-la. Fidelidade aos meus princípios? Tento mantê-la. Por vezes é difícil e mais vale abdicarmos de certos valores, mas pelo menos conseguirmos continuar a viver a insanidade que esta sociedade, ou vida, nos obriga.

"Pensamentos Soltos" Maria Madalena

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Anúncio de Jornal

Quando a mesma Mão
Que pendurou os astros no céu,
Que colocou, os rios, os mares
E todas as coisas visiveis e invisiveis sobre a Terra,
Me deu também a vida,
Deu-me algo que não pedi,
Que não queria,
Que não quero.

Os anos acumularam-se
Sobre os ombros,
Como o pó nas prateleiras
E eu aqui continuo.

Hei, será que há por aí alguém
Que queira trocar comigo?

Vou pôr um anúncio no jornal:

“Troca-se vida já usada,
Com 42 anos de rodagem,
Mas em muito bom estado,
Por morte rápida e indolor.”


24 de Fevereiro de 2008

Apelo à Poesia

Por que vieste? — Não chamei por ti!
Era tão natural o que eu pensava,
(Nem triste, nem alegre, de maneira
Que pudesse sentir a tua falta... )
E tu vieste,
Como se fosses necessária!

Poesia! nunca mais venhas assim:
Pé ante pé, covardemente oculta
Nas idéias mais simples,
Nos mais ingênuos sentimentos:
Um sorriso, um olhar, uma lembrança...
— Não sejas como o Amor!

É verdade que vens, como se fosses
Uma parte de mim que vive longe,
Presa ao meu coração
Por um elo invisível;
Mas não regresses mais sem que eu te chame,
— Não sejas como a Saudade!

De súbito, arrebatas-me, através
De zonas espectrais, de ignotos climas;
E, quando desço à vida, já não sei
Onde era o meu lugar...
Poesia! nunca mais venhas assim,
— Não sejas como a Loucura!

Embora a dor me fira, de tal modo
Que só as tuas mãos saibam curar-me,
Ou ninguém, se não tu, possa entender
O meu contentamento,
Não venhas nunca mais sem que eu te chame,
— Não sejas como a Morte!


Carlos Queirós

Soneto de amor

Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

António Régio

Erótica


A noite descia
como um cortinado
sobre a erva fria
do campo orvalhado.

e eu (fauno em vertigem)
a rondar em torno
do teu corpo virgem,
sonolento e morno,

pensava no lasso
tombar do desejo;
em breve, o cansaço
do último beijo...

E no modo como
sentir menos fácil
o maduro pomo
do teu corpo grácil:

ou sem lhe tocar
de tanto o querer!
ficar a olhar,
até o esquecer,

ou como por entre
reflexos do lago,
roçar-lhe no ventre
luarento afago;

perpassando os meus
nos teus lábios húmidos,
meu peito nos teus
brancos
seios
túmidos...

Carlos Queirós

Entre os teus lábios


Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Eugénio de Andrade

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Toda a minha loucura vem do facto de nunca me terem deixado ser eu própria...

Porquê?



Porque motivo vivemos apontando os dedos uns aos outros em vez de darmos as mãos?
Porque motivo mais facilmente se aceita a indiferença e "desamor" do que o amor entre as pessoas?

Recuerda que cualquier momento
es bueno para comenzar
y que ninguno es tan terrible para claudicar.
No olvides
que la causa de Tu presente es Tu pasado
así como la causa de Tu futuro será
Tu presente.
Aprende de los audaces,
de los fuertes,
de quien no acepta situaciones,
de quien vivirá a pesar de todo,
piensa menos en tus problemas
y más en Tu trabajo
y tus problemas sin alimentarlos morirán.
Aprende a nacer desde el dolor
y a ser más grande
que el más grande de los
obstáculos.

Pablo Neruda


"Quien conoce a los hombres es inteligente.

Quien se conoce a sí mismo es iluminado.

Quien vence a los otros posee fuerza.

Quien se vence a sí mismo es aún mas fuerte.

Quien se conforma con lo que tiene es rico.

Quien obra con vigor posee voluntad.

Quien se mantiene donde encontró su hogar, perdura largamente.

Morir y no perecer, es la verdadera longevidad."

Lao Tsé

domingo, 30 de novembro de 2008

Para não dizerem que não falei de flores




"Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer."

Geraldo Vandré

Cecília Meireles


Mais um pequeno tributo a Cecília Meireles, estes poemas foram aqui deixados pela minha querida amiga Elizabet.

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
Feito de longe e de leve,
Para que venhas comigo
E eu para sempre te leve…
- Mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
Das montanhas dos instantes
Desmancha todos os mares
E une as terras mais distantes…
- Palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
Entre os ventos taciturnos,
Apago meus pensamentos,
Ponho vestidos nocturnos,
- Que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
Os mundos vão navegando
Nos ares certos do tempo,
Até não se sabe quando… -
E um dia eu me acabarei.

Interlúdio

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
Nem passado.
Deixa o presente — claro muro s
Em coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
Pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
O cometa dos meus males a
Funda, desarvorado.

Fico ao teu lado.


Ninguém me venha dar vida

Ninguém me venha dar vida,
Que estou morrendo de amor,
Que estou feliz de morrer,
Que não tenho mal nem dor,
Que estou de sonho ferida,
Que não me quero curar,
Que estou deixando de ser
E não me quero encontrar,
Que estou dentro de um navio
Que sei que vai naufragar,
Já não falo e ainda sorrio,
Porque está perto de mim
O dono verde-mar que busquei
Desde o começo e estava apenas no fim.
Corações por que chorais?
Preparai meu arremesso para as algas e corais.
Fim ditoso, hora feliz:
Guardai meu amor sem preço
Que só quis a quem não quis.


Inscrição na Areia

O meu amor não tem
Importância nenhuma.
Não tem o peso nem
De uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
Importância nenhuma.
Canção do Sonho Acabado

Já tive a rosa do amor
- Rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- Utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...


Cecília Meireles